sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Água mole...

Na primeira vez em que Ricardo lhe deu uma cantada, ela ficou sem saber o que fazer. Era tão novinha, recém chegada na Universidade, nem sabia como dizer não, temerosa de magoar o rapaz. Mas ela já estava investindo em outra rapaz, um amigo dele, com quem acabou tendo um namoro intenso e tumultuado. Quando o tal romance acabou, quem apareceu? Ricardo. Ele estava novamente com olhos pedintes e voz amorosa. A diferença é que agora ela já não era tão inocente. E já tinha aprendido que Ricardo era um xavequeiro quase profissional. Bastava passar uma mulher na frente dele – ou atrás, ao lado, na esquina- e ele já espichava os grandes olhos de cílios longos e chegava mais perto para dizer seu texto ensaiado. Chegava a ponto de dizer a mesma coisa a garotas diferentes, que se divertiam depois comentando a gafe masculina. O que não impedia a sua lista de conquistas de crescer cada vez mais. De algum modo, porém, ele foi fazendo com que ela se sentisse especial. Elogiava não sua beleza, mas sua sensualidade. Ele parecia tão convicto de que ela era boa amante! Parecia querer tanto experimentar. Ela é que não queria nada. Estava tentando se recuperar de seu último desastre amoroso.
Mas, bastava por os pés numa festa, lá vinha o mocinho. Um mês depois, num bar qualquer, de novo ele. Insistentemente, assiduamente, lentamente. Fazia promessas sexuais, ia dizendo aos poucos suas habilidades. Depois de um tempo, ela já nem dava trela. Mas começou a gostar da situação. Virou uma brincadeira que beirava o sadismo. Mal avistava a figura pequena por trás dos óculos, e já começava a assumir uma postura mais sensual, preparava um sorriso dúbio, deixava os olhos prontos para um leve desdém divertido.
O que este rapaz estava fazendo era: dar poder a uma mulher. Uma deliciosa sensação de poder sexual. Sem um único toque, sem um único beijo, ele a transformava numa potente força. Ela gostou tanto que começou a provocá-lo. Chegou a dizer, brincando,que ele era, no fundo, um menino bonzinho. O que só o instigava mais. Esta sensação de poder feminino crescia a ponto de se transformar em desejo.
Uma noite, ao chegar a uma festa na casa de colegas da faculdade, ele já a cercou. Os olhos cada vez mais pidões, a voz cada vez mais insinuante, os corpos cada vez mais próximos. E disparou, sem dar tempo a ela de perceber: “hoje você podia dormir la em casa”. Três longos anos depois da primeira abordagem, ele ouviu sem acreditar a inesperada resposta: “tudo bem. Quando você for embora, me chama”.
Nem ela saberia dizer quando foi que decidiu dar pra ele. Mas a tensão erótica tinha chegada a um ponto que não havia mais o que inventar. Dançou a noite inteira, bebeu pouco, conversou com amigas, recebeu outros olhares. Já de madrugada, o moço se aproximou novamente e avisou incrédulo que estava indo. “Tá. Vou pegar minha bolsa”.
No caminho para a casa dele, caminhando lado a lado sem se tocarem, conversaram sobre coisas a toa. E lembraram quando se conheceram, sobre o ex-namorado dela, sobre todo o tempo que se passara entre a primeira cantada e esta noite. Então ele estacou e confessou: não estava acreditando que ela, finalmente, ia dormir com ele. Parecia quase decepcionado, como se estivesse tão acostumado ao jogo criado que temia perdê-lo.
Só ao chegar em casa tomou a iniciativa de tocá-la, um pouco sem jeito, tão tímido quanto ela. Para iniciar um noite memorável, quando ele cumpriu todas as promessa feitas e ela mostrou que valeu a pena a espera.

Um comentário:

  1. Jesus... eu tomo remédio controlado e já estava com a cartela na mão para o caso de ela dar um jeito de pular fora.
    Abs.

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