Zennoshin Shoji, 94 anos
Manaus, AM
Foi num mês de maio que Zennoshin Shoji conseguiu dar um dos maiores passos de sua vida: encontrou uma noiva. Uma proeza para quem pretendia partir do Japão para a Amazônia. Que pais aceitariam com facilidade deixar sua filha se casar e partir para tão longe? O jovem que alimentou desde a infância o sonho da imigração seguia os passos dos koutakusseis, grupo de estudantes de agricultura que se estabeleceram na região de Parintins, no Amazonas, na década de 30, cumprindo um acordo entre governos. Em 1937, enfrentou com bom ânimo os três meses de viagem, ao lado da esposa Tomoyo. Shoji, hoje com 92 anos, pisca muito os olhos e diz com seu bom humor característico: “Sabe, né?, casado novo, todo repleto e cheio de esperança, eu vim no navio namorando; era feliz demais apesar de ser imigrante!”.
Na província de Miagi-Ken, em Sendai, onde nasceu, a falta de recursos provavelmente o condenaria a uma vida de privações ou a emigração forçada para a Manchúria.
Mas quem disse que ele estava preparado para a lida na roça? Disposto a realizar seus sonhos, Shoji teve que aprender a carpir, plantar, colher. O foco inicial dos koutakusseis era a juta. A planta trazida da Índia, no entanto, não se adaptou com facilidade e foram precisos vários anos de pesquisa e trabalho até que, finalmente, ela se tornasse um negócio lucrativo e trouxesse grandeza para a colônia conhecida como Vila Amazônia. Escola, armazéns, templo e até hospital. Uma história de amor tão bonita quanto o casamento de Shoji se fazia entre Brasil e Japão, até que a segunda Guerra Mundial acabou com a Lua de Mel e tornou os dois paises inimigos. E os japoneses passaram a ser perseguidos. Muitos perderam bens. Muitos se perderam da família. Da Vila Amazônia, hoje restam poucas ruínas e o cemitério, onde muitos koutakusseis estão enterrados. Destes tempos, Shoji se lembra do dia em que apanhou de um policial com uma tira de couro de peixe. “Eu não entendia porque os soldados não gostavam de japonês, né?”.
Como se fizesse um balanço de sua própria vida, conclui que, apesar de todas as dificuldades, estava correto quando decidiu onde seus olhos rasgados veriam seus filhos crescer. Sentado em uma cadeira de trançado azul, enquanto dois cães brincam atrás da grade que nos deixa ver um quintal com palmeiras, seu Shoji mira o céu e busca palavras já prontas.Porque já sabe o que quer dizer, já sabe o que sente: “Eu sempre achei que a Amazônia fosse mesmo a minha terra”.
Manaus, AM
Foi num mês de maio que Zennoshin Shoji conseguiu dar um dos maiores passos de sua vida: encontrou uma noiva. Uma proeza para quem pretendia partir do Japão para a Amazônia. Que pais aceitariam com facilidade deixar sua filha se casar e partir para tão longe? O jovem que alimentou desde a infância o sonho da imigração seguia os passos dos koutakusseis, grupo de estudantes de agricultura que se estabeleceram na região de Parintins, no Amazonas, na década de 30, cumprindo um acordo entre governos. Em 1937, enfrentou com bom ânimo os três meses de viagem, ao lado da esposa Tomoyo. Shoji, hoje com 92 anos, pisca muito os olhos e diz com seu bom humor característico: “Sabe, né?, casado novo, todo repleto e cheio de esperança, eu vim no navio namorando; era feliz demais apesar de ser imigrante!”.
Na província de Miagi-Ken, em Sendai, onde nasceu, a falta de recursos provavelmente o condenaria a uma vida de privações ou a emigração forçada para a Manchúria.
Mas quem disse que ele estava preparado para a lida na roça? Disposto a realizar seus sonhos, Shoji teve que aprender a carpir, plantar, colher. O foco inicial dos koutakusseis era a juta. A planta trazida da Índia, no entanto, não se adaptou com facilidade e foram precisos vários anos de pesquisa e trabalho até que, finalmente, ela se tornasse um negócio lucrativo e trouxesse grandeza para a colônia conhecida como Vila Amazônia. Escola, armazéns, templo e até hospital. Uma história de amor tão bonita quanto o casamento de Shoji se fazia entre Brasil e Japão, até que a segunda Guerra Mundial acabou com a Lua de Mel e tornou os dois paises inimigos. E os japoneses passaram a ser perseguidos. Muitos perderam bens. Muitos se perderam da família. Da Vila Amazônia, hoje restam poucas ruínas e o cemitério, onde muitos koutakusseis estão enterrados. Destes tempos, Shoji se lembra do dia em que apanhou de um policial com uma tira de couro de peixe. “Eu não entendia porque os soldados não gostavam de japonês, né?”.
Como se fizesse um balanço de sua própria vida, conclui que, apesar de todas as dificuldades, estava correto quando decidiu onde seus olhos rasgados veriam seus filhos crescer. Sentado em uma cadeira de trançado azul, enquanto dois cães brincam atrás da grade que nos deixa ver um quintal com palmeiras, seu Shoji mira o céu e busca palavras já prontas.Porque já sabe o que quer dizer, já sabe o que sente: “Eu sempre achei que a Amazônia fosse mesmo a minha terra”.
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