quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Dia do Fotógrafo: os 'Cotoveleiros'

De todos os fotógrafos que conheci, os piores, para mim, são os 'Cotoveleiros'. Incrível, eles parecem ter mais cotovelos do que olhos! Em qualquer evento, vão empurrando todo mundo com os braços abertos, como galinhas chamando os pintinhos pra debaixo da asa. Quase sempre têm também uma bolsa enorme, que balançam de um lado para outro para afastar os concorrentes. Estão sempre desesperados para conseguir um lugar melhor, para fazer uma foto melhor, para fazer o registro único num local nem um pouco exclusivo. Acho que nunca passou pela cabeça deles a palavra ‘cooperação’. O que os torna mais patéticos é que, na maioria das vezes, fazem esta cena desnecessariamente. E preocupam-se tanto em concorrer com os colegas que não percebem o que realmente está se passando. Uma vez, cobrindo um Agrishow Ribeirão, levei várias cotoveladas de um cara que queria fotografar o presidente Lula. Ia empurrando todo mundo e dizendo que era do "O Globo". Mas a verdade é que o Lula, que ainda não tinha decepcionado muita gente, ficou um bom tempo no palco, fazendo pose para as lentes. Ele é quem tinha chegado atrasado. Só conseguiu fotografar dona Marisa, na saída, conversando com um palhaço (palhaço mesmo, de cara pintada e nariz vermelho) que estava fazendo não sei o que naquela cena.
O pior é que, no ano seguinte, lá estava ele de novo (o fotógrafo, não o palhaço). Com uma mochila gigante e um novo item no equipamento: uma escada. Eu disse: uma es-ca-da! Para quem não sabe, o Agrishow Ribeirão Preto é maior feira de agronegócios da América Latina, um evento realmente grande, mas bem organizado, com horários marcados, discursos programados e acesso absolutamente livre para a imprensa, com dezenas de computadores a disposição e cominhos caprichados, com sucos, refrigerantes, saladas, massas e queijos cremosos com geléia de framboesa (um luxo). Sem contar os shows e os jantares nos melhores restaurantes da cidade, exclusivo para jornalistas (ô saudade!). E eu pergunto: para que o desespero? Para que passar na frente dos outros? Para que a pressa? E o que ele ia fazer com uma escada num local onde não havia necessidade de se ver de cima?Aliás, para ver de cima mesmo, fotógrafos tinham direito a vôos panôramicos de helicóptero. É sério. E se ele não abria mão disto, bastava usar uma mesinha ou pedir uma escada, com certeza não faltaria. Desta vez ele estava fotografando o infame Severino Cavalcanti, que na época era presidente da Câmara. Falou umas bobeiras, abraçou uma criancinha com síndrome de Down e foi solenemente ignorado pela imprensa. Se alguém fez foto dele, foi só pra constar. Quando acabou o discurso, o fotógrafo cotoveleiro parecia mais tranquilo. E me deu umas olhadas, meio em jeito de flerte (até que ele era ajeitado, sabe?). Como sou boa fisionomista, reconheci na hora o cotovelador do ano anterior. E passei direto, fingindo que não tinha notado a existência dele. Porque simplesmente não dá pra levar a sério alguém que vai do Rio de Janeiro a Ribeirão Preto carregando uma escada nas costas.

Um comentário:

  1. Monica e sua turma na Agrishow! Saudades máster!
    Beijos, guapa, e feliz dia!

    Alicia

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