segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Mulheres de Verdade


Uma Mulher de Vestido entrevista Mônica Canejo, a fotógrafa que realizou ensaio erótico com Barbies:

UMDV As Barbies não têm celulite, não têm pneuzinho, não têm flacidez e estão sempre sorrindo. Elas são o ideal da mulher atual?

MC Elas representam um padrão de beleza buscado por muitas mulheres do mundo. Um padrão que a mídia exaustivamente nos mostra todos os dias. Mas, qual é o preço deste ideal? Para manter este corpo, elas não comem. Pelo menos eu nunca as vi comendo. E o peitos, talvez seja fácil perceber, não são naturais, são sintéticos. Não que eu as esteja criticando. Só estou questionando se todas as mulheres devem ser assim também.

UMDV Acho que esta questão tem sido mais discutida ultimamente na mídia. Como no caso da modelo Filipa Hamilton que se queixou há tempo por sua imagem ter sida manipulada para que ela parecesse mais magra... e ela já era praticamente uma Barbie, né?

MC Pois é... mas eu acho que esta questão vai além. Algumas revistas estão começando a publicar fotos com modelos menos magras ou até com não modelos. O que, para mim, é só uma estratégia de marketing. Porque então vamos passar a ver que as moças mais cheinhas são bonitas. Pronto! Todo mundo vai ter que se enquadrar novamente. E as magérrimas é que vão fazer regime de engorda.
O que eu quero dizer é que não se trata de ser magra ou gorda. Alta ou baixa. Loira ou morena. Trata-se de estarmos sempre lidando com padrões de beleza femininos excessivamente rígidos. As próprias mulheres se cobram, e o resto da sociedade também cobra, para estar no padrão. Eu me lembro que nos anos 70 e 80 era bonito ter peitinho. A partir dos 90, virou moda os peitões. E a mulherada correndo atrás dos cirurgiões plásticos, ora para diminui ora para aumentar.

UMDV E você é contra a plástica?

MC Nem contra nem a favor, acho esta uma questão muito pessoal. Eu não faria, mas tenho uma amiga que colocou uma xícara de silicone em cada lado e está super feliz. O que eu questiono é esta banalização da plástica. Você vê outdoor anunciando cirurgias estéticas em 36 vezes, como se fosse um computador Positivo das Casas Bahia. Mas é um procedimento cirúrgico como qualquer outro, com todos os riscos que isto envolve. E as pessoas se arriscam muito facilmente para se sentirem incluídas.


UMDV Já que você usou a palavra inclusão, gostaria que você falasse um pouco sobre a participação da Teresa neste ensaio...


MC Ah, a Teresa! A Teresa é uma jovem muito bonita que, num acidente doméstico*, perdeu as duas pernas. Isto não a impediu de manifestar sua sensualidade. Ela está em praticamente todas as fotos, porque é justamente a mais expressiva das três. Ela está sempre com um olhar sereno e, ao mesmo tempo, um leve sorriso. Eu diria até que ela é a que tem mais cara de ‘safada’ (rs). Neste caso acho que não estamos só falando de inclusão social, mas sexual também (rs).

UMDV No caso, inclusão a três! Com isto você estava pensando em também questionar os padrões de sexualidade?

MC Como...? Ah, sim... claro. O modo como uma sociedade se manifesta sexualmente é bastante representativo de seus valores. Então eu quis mesmo questionar o pensamento básico da heterossexualidade monogâmica.

UMDV Por isto não há a figura masculina neste ensaio?

MC E por que temos sempre que nos render à figura masculina? Sempre este padrão patriarcal machista? Quando as mulheres terão espaço para se expressarem sem esta dependência do homem?
Bem, também porque não tinha nenhum Ken lá em casa... Sem contar que o Ken sem roupa é muito feio, parece um boneco!


E como foi o trabalho com as modelos?

MC Além da Teresa, estavam também a Clarice e a Summer. Puxa, elas são muito disciplinadas. Algumas fotos demoraram bastante para serem feitas e elas se mantinham absolutamente imóveis. Sem contar que atendiam a tudo o que eu pedia, numa boa, sempre com um sorriso nos lábios, muito concentradas. E com um ótimo entrosamento entre elas. Principalmente entre a Teresa e a Summer, há uma química entre elas... A única dificuldade que tive foi que, em alguns momentos, a imagem ficaria com uma atmosfera mais íntima se elas fechassem os olhos. Mas, tudo bem, a gente também tem que compreender as limitações individuais.

UMDV E elas gostaram do resultado?

MC Muito! Elas acharam que ficou “bastante sensual, sem ser vulgar”.

UMDV Sabe que, agora que você levantou todas estas questões, eu confesso que não tinha pensado em nada disto. Desculpe-me se te subestimei, mas achei mesmo que sua intenção era mais lúdica, compreende? Achei que você estava só brincando quando resolveu fotografar as Barbies da sua filha.

MC Cá entre nós, só estou falando estas coisas para aproveitar que este assunto ta na moda e parecer um pouco mais engajada. Esta história de fotografia como instrumento de transformação social... sabe? Quando eu fiz as fotos, tava só achando muito engraçado. Mas isto você corta, tá? Deixe as pessoas pensarem que eu sou inteligente.

UMDV Agora, mudando um pouco de assunto, você não acha que esta entrevista pode ser um sintoma de algum tipo de distúrbio? Não leve a mal, mas me parece um tanto esquizofrênica, não é?

MC Não, acho que não. Só estou tentando chamar um pouco a atenção. Em todo caso, se você quiser, posso conversar sobre isto com a doutora Cristina.

UMDV Quem é a doutora Cristina?

MC Oras, é a sua psiquiatra! Quero dizer, a minha!



3 comentários:

  1. boas fotos.. iluminação massa e uma boa ideia na cabeça! =D

    seguirei o blog!
    parabens por ele e bons clicks!

    Igo Bione
    www.flickr.com/igobione

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  2. Mônica Multi Canejo? Êta mulher multimídia! Esbanjando criatividade e bom humor, adorei!

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  3. adorei as fotos tbm! este é um projeto que sempre pensei em fazer, mas nunca fui atrás das bonecas...
    seu blog é muito gostoso de ler! :)

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